segunda-feira, 29 de junho de 2015

Diversidade se aprende na escola.


Não há dúvidas de que a escola tem como um de seus papéis formar cidadãos para a boa convivência em sociedade, certo? Para isso, os alunos devem aprender a respeitar as diferenças. Muitos professores e gestores partilham dessa opinião, mas ainda consideram a diversidade sexual um tabu dentro da sala de aula. Não é por menos. Há ainda muito preconceito na sociedade - e ele se reflete na escola. Um estudo feito em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que um terço dos 18,5 mil alunos entrevistados diz evitar chegar perto de homossexuais.
Ao se calar frente a essa realidade, a instituição de ensino acaba fechando os olhos para o preconceito - que, cedo ou tarde, tende a se materializar nos casos de violência e homofobia que vemos com frequência na mídia. Segundo uma pesquisa de 2004 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mais de 40% dos homens homossexuais brasileiros foram agredidos fisicamente durante a vida escolar por conta de sua orientação. E esse fato não pode ser ignorado. "Muitos professores têm consciência de que a diversidade deve ser respeitada, mas acabam reproduzindo preconceitos enraizados na sociedade, como pedir para um aluno falar ‘com voz de homem’, por exemplo. Essa é uma postura que tem de ser superada", afirma Claudia Vianna, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Para problematizar as ideias que levam à discriminação, é preciso colocar a diversidade em discussão (e isso vale não só para a sexual, mas também para a racial, a socioeconômica e qualquer outra). Não importa a idade do aluno. O que varia, é claro, é a abordagem. Questionar o conceito de "jogos de menino" e "jogos de menina" é uma forma de começar a tratar o tema com os menores. A suposição de que crianças pequenas tendem a se tornar gays se receberem informação sobre diversidade sexual é absurda e não pode ser usada para deixar o tema de lado. No caso de jovens, pode-se partir de situações mais gerais - como as noticiadas pela imprensa - ou de casos que ocorrem dentro da escola, como o de um aluno gay que sofre bullying em sala de aula, por exemplo. 

Além de falar sobre o assunto, é importante criar um ambiente em que a homossexualidade seja tratada com naturalidade e as pessoas sintam-se à vontade para ser como são. Se falar de forma ampla sobre o tema já é difícil para muita gente, imagine o professor conversar com os estudantes sobre a própria orientação sexual. De acordo com estimativas da Schools Out, uma organização sem fins lucrativos que defende a igualdade na Educação, apenas 20% dos docentes gays revelam sua opção aos alunos. Assumir publicamente a homossexualidade é uma decisão pessoal - ninguém é obrigado a comentar assuntos da esfera privada -, mas é fundamental que quem opta por falar seja apoiado e a experiência possa, inclusive, ajudar no debate sobre a diversidade. Muitas vezes, infelizmente, o silêncio acontece não por vontade, mas por medo de ser discriminado por alunos, pais e colegas. 

A escola é, por excelência, o lugar em que meninos e meninas aprendem a conviver com as diferenças e a deixar de lado preconceitos e estereótipos que encontram nas demais esferas sociais. A instituição não pode se render à pressão de famílias que não aceitam que o filho estude com um professor ou um colega assumidamente homossexual. Perseguições por causa de orientação sexual são inadmissíveis. Cabe aos educadores deixar isso claro e fazer com que a escola seja, de fato, um espaço em que se aprende a respeitar a todos.


Por Aurélio Amaral 



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