terça-feira, 18 de agosto de 2015

Grafiteiras paraibanas usam arte para promover os direitos das mulheres.


Kalyne Lima (Foto: Rafael Passos/Divulgação).
A face colorida da mulher é retratada na arte urbana de duas artistas, grafiteiras e paraibanas. O graffiti de Kalyne Lima e Priscila Lima expressa nos ambientes urbanos de João Pessoa sentimentos e críticas sociais, com o toque feminino. Elas desenvolvem essa arte em um espaço que consideram majoritariamente de homens: segundo as artistas, apenas sete mulheres grafitam na Grande João Pessoa e apenas uma em Campina Grande.

"O graffiti é uma arte transgressora, dessa forma, as mulheres que são representadas e que representam essa expressão estão imprimindo o desejo de empoderamento e protagonismo", comenta a grafiteira Kalyne Lima.

As duas consideram o movimento do Hip Hop, no qual o graffiti está inserido, como machista. Contudo, Kalyne Lima diz que, mesmo os homens sendo maioria na arte urbana de grafitar os muros, as mulheres estão fazendo suas artes com qualidade técnica igualitária e já atuam em seu dia a dia com liberdade e auto valorização. "Na ação de pintar na rua, nosso espaço nós mesmas garantimos”, contou ela.

A grafiteira Priscila Lima considera que fazer estas imagens serve como uma forma de incentivo para que outras mulheres também possam investir artisticamente, tornando assim o movimento um pouco menos “masculino”.

Grafiteiras
“Uso o graffiti pra refletir sentimentos, ideais e defender aquilo em que acredito", comenta a grafiteira Kalyne Lima, que desenvolve atividades no movimento Hip Hop e procura expressar em cada arte a luta pelos direitos das mulheres.

A grafiteira, que também é mãe, estudante, jornalista e educadora, considera pintar como uma forma próxima da poesia, recitada através do spray de tinta de versos fortes, coloridos e que contam a história do mundo feminino, seus sofrimentos, luta e protagonismo. Por fim, esta arte acaba sendo 'lida' pelos olhares de quem passa pelos espaços antes sem o brilho da arte.

A arte preferida dela foi produzida em conjunto com o grupo 'Crew'olinas' para uma campanha da Secretaria de Mulheres do Estado da Paraíba. Na arte foram usadas imagens de mulheres com a técnica de stencil num painel de 17 metros lineares, a campanha tinha o slogam "Paraíba mulher forte e de valor".

Painel com a coloboração de Kalyne Lima (Foto: Kalyne Lima/Arquivo pessoal).

Com o mesmo sobrenome de Kalyne e com cerca de onze anos de graffiti, Priscila Lima é também fotógrafa e arte educadora. Ela utiliza o pseudônimo 'Witch' e pinta a personagem 'Catrina'. Segundo Priscila, ela tem semelhanças físicas com a sua personagem na qual expressa o que está sentindo no dia, ou coisas que defende, como críticas diretas e indiretas ao machismo, ao racismo, à homofobia e a qualquer tipo de violência.

Grafiteira Priscila Lima, conhecida como Witch
(Foto: Felipe Ramos/G1 Paraíba).
O início na arte do graffifi de 'Witch' aconteceu após conhecer alguns grafiteiros. Ela foi informada por eles sobre oficinas gratuitas que estavam sendo ministradas na cidade de João Pessoa. Em 2008 fez uma oficina com Wanessa Dedoverde, que também é uma grafiteira. Atualmente tem a crew Borboletas de Passagem, justamente com Wanessa, sua ex-professora.

Priscila comentou que vale muito a pena pintar o mundo e colorir um pouco a realidade, fazendo assim com que as mulheres se sintam representadas, que leiam e interpretem cada desenho e cresçam no amor próprio." Que as mulheres ao verem minhas artes se sintam representadas, que leiam e interpretem cada desenho", explica Priscila Lima.

Uma das pinturas de Priscila pode ser vista em uma praça na Avenida Governador Flávio Ribeiro Coutinho, conhecida como Retão de Manaíra, no bairro de mesmo nome. Veja a foto abaixo.

Personagem da grafiteira paraibana Priscila Lima, conhecia como Witch
(Foto: Priscila Lima/Arquivo pessoal).

Flores e Espinhos
As duas artistas urbanas passam por desafios, porém, relatam também os dias de glória, ao verem outras pessoas e especialmente mulheres reconhecendo e sendo ajudadas pelo seu trabalho. Apesar de reconhecer que graffiti seja uma ambiente um pouco mais igualitário, mesmo estando diretamente ligado ao Hip Hip, que este sim considera machista, Kalyne comentou que existe o desafio de que, corriqueiramente há alguns eventos em que apenas homens são convidados, o que disse acabar incomodando um pouco.

Já Priscila relata que há quem se incomode quando ela sai pra grafitar de vestido ou shortinho. "Há quem fale dos meus trabalhos por que é “meiguinho”, mesmo sendo uma boneca com seios de fora, ou que eu deveira fazer realismo, porque aí sim eu seria uma grafiteira boa. Há também quem fale que só saio para grafitar porque namoro um cara que pinta também", contou.

No entanto, de acordo com ela, os desafios são superados e até mesmo recompensando quando as pessoas visualizam suas artes e são impactadas, inquietadas e questionadas por elas. "Quero que [as artes] façam as pessoas pensarem - concordando comigo ou não".

Segundo Kalyne, certa vez ela ouviu um relato de uma moça que lhe contava a alegria de ver personagens femininos sendo grafitados nas paredes da universidade, na ocasião ela se referia ao trabalho do grafiteiro Marcos Perfect. Neste relato, apesar de não ser uma arte sua, a grafiteira percebeu então o quanto essa representatividade é importante.

Felipe Ramos
Especial para o G1 PB

Fonte: G1/PB

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